Carne Carbono Neutro: Marfrig lança linha de carne em parceria com a Embrapa

O produto foi desenvolvido pela empresa Marfrig em parceria com a Embrapa

té pouco tempo atrás, o uso de sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) para produção de carne bovina não era tão intensificada como nos dias atuais. Ao longo dos anos, pesquisas apontam inúmeras vantagens como à intensificação sustentável do uso da terra, diversificação da produção, conservação do solo, uso dos recursos naturais, redução da pressão para a abertura de novas áreas conhecidas como efeito “poupa-terra”, sem deixar de lado o bem estar animal, bem como o sequestro de carbono, a mitigação das emissões de gases, dentre outras vantagens. Os estudos da Embrapa Gado de Corte resultou no lançamento da nova linha de carnes com atributos de sustentabilidade: a Marca Viva, usando como conceito a certificação Carne Carbono Neutro (CCN). Lançada pela empresa Marfrig em parceria com a Embrapa, esse conceito integra resultados de pesquisa a um processo de produto tecnológico único em sua concepção que alia a compensação das emissões de metano entérico (gás de efeito estufa) dos bovinos ao bem estar animal. De acordo com a companhias, de alimentos, responsável pela linha de carnes, foram investidos cerca de 10 milhões de reais e os recursos foram alocados em pesquisa, certificação de propriedade, construção da marca, construção dos padrões de corte, dentre outros. A princípio a marca será vendida em São Paulo e posteriormente, em todo o território nacional.
Em 2019, a Embrapa confirmou a realização da certificação para adesão do selo CCN, que atesta a qualidade do produto dentro dos padrões exigidos. Entre os conceitos levados em conta estão a prática e os processos desenvolvidos nos diferentes tipos de sistemas ILPFs que oportunizaram vários atores do setor como produtores, técnicos, formuladores de políticas públicas e outros, ao que há de mais moderno em tecnologias para esses sistemas integrados. Além do mais, essas condições atendem as demandas relacionadas à sustentabilidade que passou de modismo para uma obrigação nos tempos atuais.
Em uma publicação feita pela Embrapa Gado de Corte, o Diretor Executivo de Inovação e Tecnologia da Embrapa, Cleber Oliveira Soares, destacou a importância do projeto e a sua evolução futura. “No momento em que o mundo inicia o debate de sobretaxação de produtos agrícolas, o Brasil evolui com tecnologias e inovações produtivas sustentáveis que o protagoniza como potencial grande fornecedor de serviços ambientais. Já se discute no Brasil sobre precificação de carbono em sistemas pecuários. Com os sistemas integrados superavitários em carbono, será possível em horizonte de curto prazo (antes de 2030) termos negócios e mercados de carbono, a partir da produção pecuária e suas integrações”, relatou. Ele explica ainda que o novo conceito é uma iniciativa que contribuirá não só para a produção sustentável de proteína de origem animal no País e nos trópicos, como também oportunizará maiores ganhos produtivos e ambientais em curto, médio e longo prazo.

Produção Sustentável

Conforme o CEO da Marfrig, Miguel Gularte, “ao incentivarmos a produção sustentável geramos valor para a empresa e para a cadeia de negócios. Além disso, o desenvolvimento da carne carbono neutro, em parceria com um dos mais respeitados centros de pesquisa e de inovação do agronegócio mundial reafirma o nosso compromisso com quatro dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU” diz. 

Para a Embrapa, a produção de carne carbono neutro fortalece o mercado interno e, futuramente, a exportação de carnes para países exigentes, diferenciando o produto brasileiro em questões relacionadas a sustentabilidade. “É um projeto que conta com a participação de 12 centros de pesquisa da Embrapa, envolvendo uma rede de mais de 150 pesquisadores e ainda diversas instituições. O agro será o motor da retomada brasileira e vai precisar de parcerias como essa, unindo esforços dos setores público e privado”, enfatizou Celso Moretti, presidente da Embrapa.

Como Surgiu o CCN?

Para compreender melhor o processo, a Embrapa conta com um livreto sobre as principais perguntas e respostas referentes ao CNN. O assunto, que foi iniciado em 2012 durante o “II Congresso Colombiano y I Seminário Internacional de Silvopastoreo”, realizado na Colômbia, abordou o papel de sistemas silvipastoris como uma estratégia real para o enfrentamento de futuros cenários de mudanças climáticas.

Desenvolvido por um grupo de profissionais entre zootecnistas, veterinários e engenheiros agrônomos, o material garante um importante embasamento sobre o que se deve ter para obter o selo. Um dos objetivos da marca-conceito CCN é a neutralização das emissões de metano entérico dos bovinos em pastejo no sistema silvipastoril. Conforme apresentado no estudo inicial, “tais sistemas apresentam nível de tecnificação de baixo a moderado, e as emissões de metano representam a maior parte das emissões de GEE. No futuro, é possível que as outras fontes de emissão sejam consideradas, inclusive as de ‘fora da porteira’, o que pode auxiliar na elaboração da análise de ciclo de vida (ACV) da carne”, acrescentou.

Selo CCN – Foram disponibilizadas duas versões do selo CCN sendo uma em português e outra em inglês, o que poderão ser utilizadas para carnes bovinas frescas, congeladas ou transformadas, para mercado interno e para exportação. 

Para obter o selo, a Embrapa orienta que é necessário atender uma série de pré-requisitos e parâmetros inerentes ao conceito estabelecido no texto da série documentos intitulada “Carne Carbono Neutro: um novo conceito para carne sustentável produzida nos trópicos”. Entre os critérios está o compromisso de implantação de projeto de sistema de ILP/ILPF com base no Plano ABC do Governo Brasileiro e nos documentos orientadores da Embrapa. O sistema deve apresentar uma produção com base em pastagens estabelecidas com forrageiras herbáceas (baseline); Avaliação técnica da emissão de carbono com base nos índices zootécnicos da propriedade, considerando a emissão de GEEs por animal, indicada em documento-referência do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2006) ou da Rede PECUS (baseline); Cálculo do carbono fixado a partir de inventários florestais regulares (anuais) onde será calculado o estoque de carbono fixado nas árvores do sistema, conforme metodologias para sequestro de carbono por árvores, estabelecidas pela Embrapa Florestas. Dentre outras determinações previstas pela Embrapa. 

Para conhecer todo o processo, o produtor pode acessar as informações sobre o CCN “Carne Carbono Neutro: um novo conceito para carne sustentável produzida nos trópicos”, que está disponível em: https://old.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/doc/DOC210.pdf

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