Leite em alta

A pressão da demanda teve como consequência o aumento de preços de diversos produtos. O volume de vendas de lácteo teve um crescimento de 5,3% no primeiro semestre. Um recorde históricoA pressão da demanda teve como consequência o aumento de preços de diversos produtos. O volume de vendas de lácteo teve um crescimento de 5,3% no primeiro semestre. Um recorde histórico

onsiderada uma das commodities agropecuárias mais importantes do mundo, o leite é consumido diariamente por bilhões de pessoas em todo o mundo, nas suas mais variadas formas de consumo. Estudos apontam que, em média, são consumidos, 116,5 quilos de leite por cada habitante por ano. Mesmo diante da pandemia de Covid-19 que assola o mundo, o setor de lácteos no Brasil vem obtendo resultados positivos. É o que revela uma publicação feita pela Embrapa Gado de leite. 

Especialistas do Centro de Inteligência do Leite (CILeite), apresentaram durante reunião mensal realizada em agosto, que a pressão da demanda teve como consequência o aumento de preços de diversos produtos. De acordo com a pesquisadora da instituição, Kennya Beatriz Siqueira, o volume de vendas de lácteos teve um crescimento de 5,3% no primeiro semestre. 

Entre os produtos destacados está o leite UHT, o famoso leite de caixinha que atingiu R$ 3,42, no atacado em São Paulo, o que é considerado uma média histórica do preço que antes era de R$ 2,82. Outro exemplo foi o queijo muçarela, produto que mais se valorizou. Em março, no início da pandemia, o produto apresentou uma retração do preço devido ao fechamento de pizzarias e restaurantes. O que antes era vendido a R$ 17,00, em média, no atacado, atualmente, é comprado por R$ 27,00 o quilo. A média histórica era de R$ 19,50. 

Os especialistas do ClLeite citaram ainda o mercado “spot”, que é o leite negociado entre laticínios vendido no início de agosto acima de R$ 2,50/litro. Segundo o especialista da Embrapa Gado de Leite, Denis Rocha, no início do ano, o litro do leite spot foi vendido a R$ 1,37, em Minas Gerais e desde então quase dobrou de preço, com valorização de 87%. 

Entressafra

Considerada a entressafra da produção de leite, durante os meses de abril até setembro, é o período em que os preços ao consumidor ficam mais caros. Este é justamente o período em que se consegue a melhor valorização do produto. Nesse caso, segundo a Embrapa, o litro de leite na fazenda foi vendido em julho a R$ 1,76, na média nacional e durante a plena safra, no início do ano, a indústria estava pagando R$ 1,37. 

Glauco Carvalho, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, explica que preço do milho está subindo em plena colheita da safrinha e as exportações de soja estão mais aquecidas. Com isso, o que se espera é manter elevados os custos de concentrado neste segundo semestre. “O produtor também está pagando mais pelo concentrado. Na média de janeiro a julho, foram necessários 45 litros de leite para comprar 60 quilos de concentrado a base de milho (70%) e farelo de soja (30%). Historicamente, são necessários 41 litros de leite para a mesma compra”, relata. 

Ele explica ainda que a situação positiva do setor leiteiro está associada ao pagamento do auxílio emergencial que segue injetando na economia nacional cerca de R$ 152 bilhões. “A ajuda do Governo Federal representa de 9% a 97% na renda de algumas famílias” destaca. Ainda segundo ele, “pessoas que estavam na extrema pobreza tiveram um grande impacto com o auxílio e passaram a consumir mais. As famílias com o poder aquisitivo mais elevado também transformaram o que não foi gasto com lazer em compras nos supermercados, o que fez as vendas do setor supermercadista crescer 16% no período da pandemia, enquanto o varejo total recuou 26%, segundo levantamento da Cielo. O cenário macroeconômico também possui expectativas mais favoráveis hoje, na comparação com o início da pandemia. As previsões de queda do PIB, que chegaram próximas a 10%, se estabilizaram na faixa de 5%”, aponta. 

Economia

   Carvalho é claro ao dizer que alguns fatores preocupam o setor e destaca justamente o fim do auxílio emergencial previsto para dezembro, após o Governo Federal confirmar a prorrogação do beneficio até o final do ano. O valor de cada uma das quatro parcelas adicionais será de R$ 300 e a novidade divulgada após reunião do Presidente Jair Bolsonaro com ministros e parlamentares, no Palácio da Alvorada no dia 1º de setembro. A prorrogação será feita por meio de Medida Provisória. 

“O fim da entressafra é outro fator que irá embaralhar um pouco o mercado, com a redução dos preços pagos ao produtor”. Carvalho ressalta também sobre a competitividade da importação neste momento. Segundo ele “o leite importado está chegando ao mercado brasileiro com os preços em torno de R$ 2,10 por litro; bem abaixo do que está se pagando no mercado spot nacional (R$ 2,50), o que incentiva a importação”. 

Queda

   Sobre a importação, o especialista lembra que nos primeiros sete meses do ano, a importação de leite teve uma queda de 193 milhões de litros. Em julho o cenário mudou registrando um crescimento de 62% sobre junho, com compras equivalentes a 95 milhões de litros. E a importação continua mostrando fôlego em agosto. “A questão cambial tem poder para frear esse movimento. O câmbio tem se mostrado muito instável na pandemia e ele é um dos fatores com grande capacidade de influenciar o mercado”, pontua. 

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