Lugar de mulher é no agro

Quase 1 milhão de mulheres são responsáveis pela gestão de propriedades rurais no Brasil

De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), houve um aumento de 21% no número de mulheres que ocupam cargos de decisão nas empresas do setor entre os anos de 2013 e 2017. Nas propriedades pecuárias, elas ainda são minoria nos mais diversos cargos, mas a realidade vem mudando. 
A zootecnista Ana Virgínia Leal ilustra bem essa realidade. Nascida na Terra do Zebu, Uberaba/MG, e sem qualquer tradição familiar no agro, ela decidiu que esse seria o caminho profissional que queria trilhar. Hoje, é gerente geral do CASS Nelore, importante criatório selecionador da raça que acumula várias premiações em exposições e está sediado na Fazenda Porto Velho, no município de Boa Esperança do Sul/SP. Um trabalho que exige versatilidade, aprimoramento constante e espírito de liderança. “A capacitação é essencial para o profissional que almeja sucesso no agronegócio, uma vez que todos os dias surgem novas tecnologias. Estou sempre estudando, fazendo novos cursos, participando de palestras e eventos voltados para agropecuária”. Formada na FAZU e cursando pós-graduação em Nutrição e Alimentação de Ruminantes, ela também é jurada Auxiliar das Raças Zebuínas e membro ativo do grupo Mulheres do Agro de Araraquara. Aprendeu desde cedo a não se intimidar pelo espaço restrito às mulheres. “Fui a única mulher negra, a concluir o curso de zootecnia naquele ano, mas isso nunca me incomodou. Sempre me destaquei estudando muito e, com isso, consegui ser aceita no meio dos colegas. De alguma forma, eu teria que entrar naquela sociedade cheia de homens”, lembra Ana Virgínia. 
Antes de vencer os desafios na graduação, teve de defender sua vocação entre seus familiares. “Sou de família humilde, mas sempre estudei nas melhores escolas da cidade, pois minha família nunca mediu esforços para que isso fosse possível. Mas eles queriam que eu fosse médica, só que o amor pela pecuária falou mais alto. Com o tempo minha família aceitou minha verdadeira vocação”, afirma a zootecnista. Com passagem por outras propriedades agropecuárias pelo Brasil, Ana Virgínia encara com tranquilidade os desafios de atuar em um grande criatório de animais de elite, mostrando versatilidade. “Além da gestão dos funcionários e de realizar a parte administrativa; como compras e atendimento ao cliente; atuo na parte de escrituração zootécnica, formulação de dieta para os animais, acasalamentos, apartação, venda e pós venda de animais. Ainda faço a organização e o acompanhamento de lavoura de milho para silagem e a fenação”, conta Ana Virgínia. Com o setor em franco crescimento, ela acredita que 2021 será mais um ano favorável para o agro, mas ao mesmo tempo de cuidado com a equipe para que não sejam afetados pela pandemia. E a internet tem sido uma grande aliada da pecuária nesta atual conjuntura. “Temos nas nossas mãos um recurso fantástico que chega em qualquer lugar do mundo, que são as redes sociais. Assim, podemos mostrar nosso produto para os mais diversos países. Tem sido uma ferramenta muito efetiva, vale observar as vendas virtuais feitas no ano passado. Acredito que seja mais um ano de muitas oportunidades e sucesso”, assegura. Falando em futuro, mas valorizando as experiências do passado, Ana Virgínia espera que sua trajetória sirva para incentivar a participação de mais mulheres no agro.  “Nunca tive medo de tentar, mesmo sabendo que às vezes poderia não dar certo. Como várias vezes não deram. Para as mulheres e negras que estão procurando seu espaço no agro, eu sempre digo que não desistam, sonhem sempre e mãos à obra. Sejam entusiasmadas, estudem muito sobre a área em que desejam atuar, procurem alguém para se inspirar e sejam sempre gratas a tudo que lhes acontecer, pois isso faz parte do crescimento”, finaliza.

 

 

 

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