Retenção de fêmeas segue firme

Retenção de
fêmeas segue firme

A expectativa é de que esse ciclo permaneça até pelo menos 2021.
Os pecuaristas que trabalham com ciclo completo comemoram essa valorização

m um ano de valorização da arroba, o mercado viu a presença das fêmeas nos abates ser cada vez menor em 2020. Em um levantamento feito pela Scot Consultoria com base em dados do  IBGE, a participação de fêmeas nos abates no primeiro semestre está em queda desde 2018, quando elas representavam 45,5% dos animais abatidos. Em 2020, o percentual foi de 41,2%, sendo o terceiro menor índice dos últimos dez anos. 

Houve redução no abate tanto de vacas quanto de novilhas. O recuo nos abates de vacas gordas no primeiro semestre foi de 19,2%. Isso vem contribuindo para o aumento da arroba. “Uma boa parcela da diminuição do gado ofertado tem sido por conta de uma oferta menor de novilhas e vacas para abate. Isso ajudou a puxar a arroba para cima. Também contribuiu para esse cenário o aumento das exportações de carne. Mesmo com o mercado doméstico mais enxuto por conta da pandemia, ele tem sido suficiente para deixar o mercado aquecido”, explica Hyberville Neto, analista da Scot Consultoria. 

A retenção de fêmeas é estimulada pelas cotações da reposição em alta. A expectativa da Scot Consultoria é de que a retenção de matrizes continue em 2021. Para 2022, esse cenário até pode permanecer, mas tudo vai depender da realidade econômica da época. Por enquanto, as cotações de vacas e novilhas para os próximos meses devem se manter firmes. Pode ser que algum ajuste ocorra nesse final de ano, depois de valorizações fortes ao longo de 2020, em decorrência dos frigoríficos já terem comprado número suficiente de animais visando abastecer o mercado nas festas de final de ano. “Mas os fundamentos apontam para preços firmes, tanto no curto prazo, como em médio prazo. Nós temos inclusive as cotações da arroba do boi gordo no mercado futuro apontando para R$295 nos próximos meses”, afirma Hyberville Neto. 

O movimento de frigoríficos em busca de animais mais jovens para o abate em meio à queda na oferta tem incentivado pecuaristas a aumentar a produção de bezerros. O criador é estimulado a reter as vacas para a reprodução pelos altos preços pagos por animais jovens. O analista da Scot Consultoria explica que apostar ou não na retenção de fêmeas para o próximo ano é uma estratégia que deve ser bem avaliada por cada produtor. “Em geral, se é para o pecuarista aumentar o rebanho, o indicado é fazer isso na fase de baixa. Agora seria a hora dele manter a produção, aproveitar os resultados e fazer caixa para a fazenda, a menos que ele esteja em um aumento consistente de produção e de rebanho”, esclarece. 

Segundo ele, o indicado é que o pecuarista sempre busque melhorar a produtividade e trabalhar maximizando os resultados da fazenda para que as fases de alta tragam mais lucros e as fases de baixa sejam suportadas de maneira relativamente boa pela propriedade.

Estratégias para aproveitar o bom momento do mercado

A Fazenda Nova Pousada, em Aparecida do Rio Doce/GO, foi uma das propriedades que adotou a estratégia da retenção de fêmeas. “Como o mercado estava muito promissor, no ano passado, optamos por segurar as matrizes. Tivemos de alugar pasto fora da fazenda para não ter que vender fêmeas, pois acreditamos que o mercado fosse dar uma melhorada”, explica Felipe Lemos de Moraes.

O aumento do preço da arroba foi considerado muito bom, tornando a pecuária de corte um negócio mais rentável. Trabalhando em sistema de ciclo completo, a propriedade vai abater este ano 1,3 mil cabeças, volume similar ao de 2019. Por outro lado, o custo de produção também aumentou, mas não na mesma proporção da arroba. “Na minha região o que afetou muito a engorda foi o mercado de reposição. Como aqui na fazenda não dependemos tanto da compra de bezerros, já que 80% da produção é própria, não sentimos diretamente o impacto dessa alta da reposição”, diz o pecuarista. Segundo ele, o maior aumento nos custos para a Nova Pousada foi em relação aos insumos, principalmente da parte de nutrição. “Ração, milho, caroço de algodão, todas essas matérias-primas aumentaram bastante, impactando nosso preço final da arroba produzida”, informa Felipe.

O criador espera que o mercado continue aquecido em 2021 pelo menos pelos próximos dois ou três anos. Na visão dele, para quem trabalha com os três tipos de ciclo, como é o caso da Nova Pousada, a rentabilidade está melhor em 2020. “O bezerro está valorizado, tanto ou mais que as fêmeas. Hoje, quem tem um gado de uma genética diferenciada, está conseguindo colocar o bezerro no mercado recebendo um valor muito favorável. E o ciclo de recria também está muito aquecido, porque a procura está alta e a oferta está baixa. Então, quem recria um bezerro desmamado até chegar em umas 14 arrobas também consegue um bom retorno. E a engorda nem se fala”, pontua o criador.


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